O
nome dele é Israel Magalhães, figura conhecida na Praça da Sé, onde está
praticamente todos os dias. Ele se define como profeta e pastor, mas não prega
a redenção das almas e, sim, a reforma agrária, como solução para os pobres e
para quem passa fome.
Próximo
da Catedral, ele estende faixas com dizeres pouco inteligíveis. É de propósito
porque as palavras têm significados que não são propriamente como as
conhecemos, explica Israel.
Os
abades, por exemplo, segundo ele, é uma etnia que existia em Pernambuco e parte
do Piauí, que pertencia ao primeiro estado. Então, algumas palavras tem sua
origem em um dialeto que ele afirma conhecer.
"Muié",
mistura os idiomas latino e português, assim como "ven cun nois" e
"bolcheviqeus", que não tem no Brasil, porque, se houvesse, haveria
uma guerra e ele não defende matanças.
Mas,
intelectualmente, o termo significa não dizer mentiras. "São os que lutam
de verdade contra os escravizadores, afirma. Já os "czar", são os
czares, mesmo, da Rússia, que escravizaram o povo.
Israel
também apresenta objetos como uma cartaz que ele pegou na rua, sobre um líder
religioso árabe dissidente de um igreja e um clipe de reportagens para ilustrar
o seu recado.
Ele
mostra para mim um jornal, datado de junho de 2015, que anuncia a autorização
dos senadores para criação de mais de 200 novos municípios, para ilustrar a sua
posição em relação à autonomia dos municípios.
O
Vale do Ribeira, São Paulo, segundo ele, tem quase o tamanho de Sergipe e as
terras poderiam ser partilhadas com as pessoas. Ele logo avisa: "Não
adianta que não vai ter emprego pra todo mundo em São Paulo. Esse povo tem que
ir para o Mato Grosso para conseguir terras lá", afirma.
Israel
diz também que tem terra para abrigar 500 mil pessoas no Vale do Ribeira e no
Vale do Itararé. "Somos a Congregação do Deuteronômio (para quem não sabe,
o Deuteronômio é o quinto livro da Bíblia e faz parte do Pentateuco)",
afirma Israel, e emenda: "O pobre precisa primeiro assumir a capacidade de
um rato para poder sobreviver às suas próprias custas".
Por
que o rato? Por que o rato é capaz de subir num fio e o pobre nunca subiu para
lugar nenhum, ele atravessa uma distância de uns cinco metros se equilibrando
no fio e não cai, e o pobre, não, porque caído, ele já é, explica Israel.
Sua
igreja, define, é a dos "excluídos dos excluídos", pois é composta de
pessoas que desacreditaram das promessas de outras igrejas. Para Israel é
preciso desmascarar os falsos líderes religiosos. Eles devem dizer onde está o
dízimo, para que se utilize o dinheiro para alojar o povo na terra, pois a
distribuição da terra é defendida em vários trechos da Bíblia.
Na
sua opinião, o governo, se quiser, pode dar terra para as pessoas. "Mato
Grosso do Sul, por exemplo, pode ser ocupado por estrangeiros, se não for
ocupado antes", alerta Israel, para quem São Paulo e o Nordeste já estão
saturados. O caminho é o Norte, onde "tem terra pra todo mundo".
De
acordo com ele, a tendência em São Paulo é do aprofundamento da miséria, como
mais desemprego. A saída é se juntar pela reforma agrária.
O
próprio Jacó imigrou para o Egito quando a fome apertou, afirma Israel fazendo
um paralelo com a chegada dos nordestinos à São Paulo. "Não é vergonha
fazer a defesa da reforma agrária e se declarar um bolcheviqeus".
O
mesmo fez Stalin, segundo ele, quando o povo quis ir para Moscou e o líder
soviético disse: "Voltem, vão para o interior, aqui não há mais
espaço".
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