sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Crônica do metrô 1: O aperto



Algum problema aconteceu na linha 1. A estação está entupida de gente e as pessoas não conseguem entrar no trem; … duas, três, quatro composições passam lotadas. Ninguém sai, ninguém entra. “Meu Deus, vou chegar atrasado, não sei se conseguirei chegar a tempo na segunda aula”, diz a estudante a espera de condução. “Pego o metrô todos os dias e nunca é assim. Mas quando ela vem comigo - aponta para a amiga - acontece isso”, diz. São três amigas na estação.

Normalmente, a cada quatro composições, uma está vazia. Mas hoje não era o caso. As composições chegam sempre lotadas. “Quando uma composição vem vazia todo mundo diz uh!, se espanta, mas eles são obrigados a fazer, se não ninguém entra”, afirma a terceira amiga.

E, de fato, para desafogar um pouco a estação, o sistema operacional manda de vez em quando uma composição vazia, principalmente no horário de pico das 17h às 19h. Finalmente. ela chega, mas a quantidade de pessoas esperando é tanta que, no empurra-empurra, metade delas ficam de fora.

Um homem que saiu do trabalho há pouco, espera. Passam-se mais 25 minutos e ele ainda aguarda a sua vez. O serviço de som pede: - as pessoas que não puderem embarcar, esperem o próximo trem. “Eles dão esses avisos o tempo todo, mas não dizem o que está acontecendo”, se manifesta.

O homem veste jaqueta preta, tem aproximadamente 1,60 m, pele escura, uns 50 anos de idade, mas pode ter 40. Apesar da aparência rude de trabalhador - do tipo que se levanta às 4h da manhã e que trabalha mais de 12 horas por dia - é gentil, puxa conversa com todos e se não lhe respondem, conversa em voz alta consigo mesmo.

Mais de uma hora se passa sem que as pessoas que perderam a oportunidade de entrar na composição vazia pudessem sequer pensar em entrar nas sucessivas composições que se sucedem, sempre lotadas.

Uma delas está parada na estação já há alguns minutos, com as portas abertas, sem que alguém possa entrar de tão abarrotada. Há algum problema na linha. O condutor coloca a cabeça para fora da janela do vagão da frente, quando um passageiro lhe pergunta se não é possível mandar outra composição vazia para aliviar um pouco o número de pessoas na estação.

Até aqui, o povo teve paciência. Alguns reclamam, mas a maioria se mostra resignada, anseia em ir para a casa, como o homem que saiu mais cedo do trabalho e esperava chegar com calma em casa para passar mais tempo com a mulher e os filhos. Finalmente, ele consegue entrar no trem. As pessoas se empurram para entrar, há crianças de colo, idosos, gestantes que podem se machucar na refrega. Dentro do trem está o maior aperto, entraram mais pessoas do que a capacidade de lotação do engenho. As portas são impedidas de fechar pela multidão que anseia embarcar. Há funcionários do metrô dentro e fora do trem. Eles pedem que as pessoas deixem as portas fecharem. Um homem reclama com o funcionário. “Você acha que nós estamos fazendo de propósito?”, se queixa. “Se não é possível entrar, esperem o próximo trem”, responde o funcionário. “Mas eu estou pagando e quero ir para casa, já esperei demais” retruca o homem. O funcionário prefere não alimentar a discussão. Duas até três tentativas depois, as portas se fecham anunciando que o trem está perto de avançar. A máquina se move. O trabalhador pergunta o porquê do excesso de pessoas, qual o motivo do aperto? O funcionário não responde e o trabalhador acaba por desembarcar na estação seguinte, sem descobrir o motivo.

Não importa: ele desce aliviado e se dirige para outra plataforma para seguir a sua longa viagem. Ainda precisa pegar mais um ônibus, desembarcar e andar quinze minutos do ponto até a sua casa. Sua rotina diária é de 10 a 12 horas de trabalho e mais cinco no transporte público.

San Francisco