sexta-feira, 29 de abril de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Cuba

Militantes de esquerda de minha geração sempre tiveram grande apreço por Cuba e sua revolução. Estive em Havana duas vezes nos anos 1980, em intervalos de dois a três anos. Na primeira me encantei com a Ilha, a achei parecida com uma Salvador, Bahia, revolucionária,com um povo igualmente alegre e acolhedor, uma população majoritariamente de origem africana. Na segunda vez, por ocasião do III Congresso do Partido Comunista, portanto há 25 anos, Havana estava mudada. A parte velha da cidade degradada, suas casas mal-cuidadas me deixaram melancólico, porque representavam a próprio regime em processo de deterioração. Hoje, à distância, passados tantos anos, avalio Cuba sem paixão, mas com sentimento de que devo algo aos cubanos, aos amigos que fiz e que nunca mais vi. A revolução deixou de me encantar porque não se renovou. O embargo econômico asfixou Cuba, mas a revolução não conseguiu lograr alternativas. Fidel acaba de se aposentar, nenhuma nova liderança ficou em seu lugar. Virou uma Castro dinastia, estagnou. Gorbatchov na ex-URSS queria revitalizar o socialismo propondo mudanças sem precedentes. Criou e Perestroika e a Glasnost. Não deu tempo. O sistema em processo de decomposição ruiu. Pode não haver mais tempo para Cuba.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Assim caminha a humanidade

A Europa surpreende a você, caro leitor? Positivamente ou negativamente? Ou, como eu, nunca se deu ao trabalho de pensar no assunto? A proibição do uso da burca, na França, me deu o ensejo de refletir e pensar mais sobre o segundo menor dos continentes em superfície do mundo, sua influência na civilização ocidental e suas contradições. A Europa deu grandes contribuições ao campo da arte, filosofia, cultura, política, enfim, em todos os aspectos do conhecimento humano. A França, em particular, nos brindou com a Revolução Francesa cujo grande lema é Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Católico de batismo, anticlerical por opção, considero, um retrocesso a proibição da burca, demonstração de intolerância religiosa e de prenconceito. O sensato seria abolir uma proibição, não criar uma. Alguns, talvez, possam pensar que a burca e o islamismo ameaçam a civilização cristã. Mas, na França, o seu uso é mais uma questão de opção pessoal e religiosa do que imposição. O povo europeu já passou por muitas privações e desafios, já que a Europa foi o estopim de duas guerras mundiais que resultaram em catástrofe e perda de seu hegemonismo para os Estados Unidos e para a ex-URSS. Hitler surgiu na Alemanha e Mussolini, na Itália, personificado, em tom de farsa pelo fanfarrão Berlusconi, o Maluf pornô italiano, segundo José Simão. Embora, em decadência econômica e crise, a Europa,sem dúvida, atingiu um elevado grau de civilidade, que também apresenta suas contradições. Nada que a desabone ou a glorifique. Afinal,ditadores e bufões surgem e caem em todos os cantos e continentes.








Verve literária de um jovem autor


Irreal

Por Pietro Tarantelli

Benigno se sente confuso e ofuscado. Vê Suzana estripada no chão, com o sangue brotando a jorros e lhe parece que tudo é irreal, que não foi ele que meteu dois caroços em sua ex-namorada, aqui no estacionamento do supermercado. Quem diria que toda aquela felicidade vivida por eles acabaria desse jeito, com uma carnificina absurda.
Quando a conheceu e começaram a sair juntos, mal podia acreditar na sorte que tinha.Ele, um velho de quase 60 anos beneficiando-se de uma doce e bela jovem de 37. Desde que havia se separado de sua insuportável esposa, tinham sido anos duros e tristes para Benigno. Até que apareceu naquele clube... Que mulher monumental! Foi como um sonho. Simplesmente não reconhecia a si mesmo. Era outra vez o macho de suas melhores épocas, trepando sem parar com Suzana, fazendo-a mais e mais feliz, sentindo seu corpo excitante esvaindo-se entre suspiros apaixonados. Parecia algo irreal. Mas era verdade.
Um zumbido assobia em seus ouvidos. O barulho dos disparos o deixou momentaneamente surdo. Não ouve as pessoas gritando assustadas e os carros circulando no estacionamento. Sua confusão se manifesta como uma espécie de corrente elétrica que percorre todo seu corpo e provoca um ligeiro tremor, que não lhe impede de descarregar os cartuchos utilizados contra Suzana.
Quando ela lhe disse que tudo havia terminado, assim, de repente, teve um estalo. Não demorou a descobrir a causa. Ela estava saindo com outro, um maldito filho da puta, mais jovem do que ele... 30 ou 30 e poucos. Era o fim, mulheres como Suzana, na sua idade, não iriam cair em seus encantos.
Que distantes pareciam os tempos em que ela se mostrava carinhosa e sensual, solícita aos seus pedidos. Os tempos em que irradiava essa juventude que tanto o atraía. Imaginou-a velha. Apareceram todas essas rugas e marcas que o amor dissimula. Afinal de contas, uma mulher de 37 anos não é nenhuma menina.
Agora, ela esta aí jogada no chão,em uma poça de sangue e com as tripas para fora. Rígida e flácida,como uma boneca quebrada
Alheio a tudo que o rodeia Benigno introduz dois cartuchos novos na arma enquanto se apóia na parede. Lentamente, vira a espingarda em sua própria direção, agarra com uma mão o cano duplo e com a outra começa a pressionar um dos gatilhos.
BLAM!!
Com a confusão do momento, Benigno comete o erro de não introduzir o cano em sua boca – por medo – e só consegue que o tiro acabe com seu queixo, lábios, nariz e um olho, desfigurando-lhe a cara completamente.
BLAM!!
O segundo tiro não faz nada além de insistir no erro do primeiro, arrebentando o olho bom e terminando o trabalho de destruição de sua cara, sem causar o dano suficiente para que Benigno caia sem sentidos. Apalpando o peito, comprova com surpresa que continua vivo e de pé. Ele então retira uma faca do bolso interno e reunindo forças a enfia no pulmão esquerdo com um golpe seco.
TCHACK!!
Completamente sem sentidos, Benigno toca o peito e sente a faca afundada. Não compreende porque continua vivo e de pé. Instintivamente, extrai o objeto pungente de seu corpo, banhado de sangue e novamente crava o aço, desta vez no estômago, com outro golpe seco.
TCHACK!!
Agarrando com força, Benigno revolve a lâmina da faca em seu interior e repara como suas vísceras se contraem e se dilatam, desfeitas pelo fio cortante da arma. Benigno não cai. A vida resiste em abandoná-lo. Retira outra vez a faca enquanto sente o sufocamento provocado pelo pulmão destruído. Sem forças para segurá-la, a faca cai no chão, e Benigno fica desarmado e sem poder concluir seu suicídio. Um menino olha assustado, e, ao mesmo tempo, intrigado.
- Daniel! – grita uma mulher – Sai daí!!
- Mãe... O que este senhor tem? – pergunta o jovem.
- Não olhe!! – Ordena a mãe, ainda mais assustada do que o filho.
As pessoas rodeiam o moribundo e assistem em silêncio ao espetáculo macabro. Alguém do grupo filma a cena horrível e de noite Benigno será famoso por todo o país ao aparecer nos noticiários da TV enquanto as famílias jantam em suas casas. Uma angústia gelada se apodera dos telespectadores durante alguns instantes e logo em seguida continuam engolindo seus jantares sem saber que nesta noite muitos deles terão pesadelos densos e vermelhos que irão ressecar suas gargantas e envelhecer um pouco mais seus espíritos.








sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pensando bem...

De olho nas eleições da Fifa, o atual presidente Joseph Blatter voltou atrás e elogiou o andamento das obras para a Copa do Mundo de Futebol. Mas afinal, em sua opinião, estamos ou não atrasados? Qualquer brasileiro razoavelmente bem informado, sabe que há ainda muito o que fazer e, muito provavelmente, muita coisa estará incompleta até lá. Os aeroportos sequer dão conta do movimento atual de passageiros e dos 13 que receberão reformas para ampliação, nove estão atrasados. Dos estádios, a grande dúvida é sobre qual receberá a cerimônia de abertura. Em tese, seria o de São Paulo, que ainda nem saiu do papel. Os mais adiantados estão em fase de demolição. Hoje, no carro, pela manhã, ouvi na Band News, que a nossa tradição não é de planejamento, mas de improvisação. A Copa do Mundo vai acontecer no Brasil, de qualquer maneira. Se o Plano A falhar aciona-se o Plano B,se faltar vaga em hotel, hospeda-se os turistas em transatlânticos no Litoral,se os meios de transporte são insuficientes se complementa com um sistema alternativo e assim por diante. O importante é a empolgação do brasileiro e sua capacidade de adaptação. Será?
E tem gente que ainda reclama quando alguém critica.









quarta-feira, 13 de abril de 2011

Adeus às armas

Sou contra as armas, mas não sou a favor de um novo plebiscito sobre a proibição de sua comercialização legal, por considerá-lo extratemporâneo e proposto ao calor do massacre na escola pública, no Bairro do Realengo, Rio de Janeiro. O povo já se manifestou a respeito em referendo. Lembro que havia um clamor da sociedade organizada a favor da proibição. Ganhou o voto da maioria silenciosa, contrária à medida. Defendo um maior rigor ao comércio clandestino de armas, esse, sim, o maior problema, ao lado da fiscalização precária nas fronteiras. Sou a favor de campanhas públicas sobre o desarmamento, a partir das próprias escolas, como a campanha, noticiada pela imprensa nesta quarta-feira, em que crianças da periferia de São Paulo são estimuladas a trocar armas de brinquedo por gibis. Não seria legal ver os adultos trocando suas armas por livros? Também seria o máximo o governo e a sociedade cuidando dos problemas mentais das pessoas como se deve. O problema é tão grave quanto o tratamento dado aos presos nas penitenciárias, sem nenhuma chance de reabilitação dos detentos.

San Francisco