Por Silvano Tarantelli
Nosso Grande Líder
Tudo bem: admito a importância do sindicalista Lula na história desse País e do significado das greves do ABC para redemocratizar o país, embora essa luta seja resultado de uma série de fatores e sacrifícios de outros personagens.
Dezenas de outros sindicalistas dedicaram tanto ou mais de suas vidas pela luta dos trabalhadores e pela população brasileira, sem receber
o merecido reconhecimento, alguns no anonimato, sofrendo torturas, exílio e, em alguns casos, morrendo pelos seus ideais.
Lembro-me, entre outros, de
Roberto Morena, Lindolpho Silva, Edgar Leuenrouth, Osvaldo Pacheco e José
Ibrahin, só para citar alguns nomes importantes. Com certeza, esta lista é
muito maior do que minha curta memória.
Agora, quererem transformar Lula, ainda em vida, em mito, tal
qual o Grande Líder Kim Il Sung, na Coreia do Norte (pai de Kim Jong Il e avô
de King Jong Un, que o sucederam), ou mesmo Stalin, na ex-URSS, já é demais.
Leio nos jornais a notícia que pretendem construir um museu
para lembrar as greves dos metalurgicos do ABC tendo o nosso “grande líder”
como protagonista.
Tudo isso às expensas do erário público, parte do tesouro do
governo e outra da municipalidade de São Bernardo do Campo, onde o museu deverá
ser construído, sob obra e graça do alcaide Luiz Marinho (PT).
O museu vai custar R$ 18 milhões aos nossos bolsos, sendo R$
14,4 milhões doados pelo governo federal e R$ 3,6 milhões do governo municipal.
Poderiam ao menos seguir a experiência de grandes museus nos
Estados Unidos e Europa, patrocinados pela iniciativa privada por meio de
doações.
Creio que esses museus, quase sempre temáticos, não sejam
dedicados exclusivamente a esse ou àquele personagem, nem que se exponham obras
de um determinado artista e detrimento de outros.
Tudo bem, temos o Mausoléu de Lenin, por exemplo, na Rússia,
com o corpo mumificado do regente da Revolução Russsa.
Mas não é o caso dessa
vez de um monumento dedicado quase que exclusivamente ao sindicalista Lula, em
vida, mesmo que a pretexto de se homenagear o sindicalismo brasileiro, que com
certeza, não surgiu a partir das greves do ABC. Afinal, ainda bem, o homem está se restabelecendo satisfatoriamente de um câncer que pelos relatórios médicos foi superado e, terá, espero, uma longa vida pela frente.
Para completar, querem erigir outro memorial em São Paulo
com a mesma finalidade (o projeto que cede o terreno está sendo analisado pela
Câmara Municipal), orçado entre R$ 40 milhões a R$ 60 milhões, sob a
coordenação de Paulo Okamoto, outro nome relacionado com o escândalo do
mensalão.
Como assinala trecho de uma das peças do dramaturgo e poeta
alemão Bertolt Brecht, infeliz
da nação que necessita de heróis.
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