segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Estive na quinta-feira passada na entrega do título de cidadão paulistano ao jornalista José Hamilton Ribeiro, proposto pelo vereador Cláudio Fonseca, do PPS, uma justa homenagem a um dos melhores repórteres brasileiros, um legítimo contador de “causos” da imprensa brasileira, que entre os seus brilhantes trabalhos, cobriu a “Guerra do Vietnã”, para a Realidade, revista que marcou época nos anos 70. Na cobertura da guerra, o jornalista perdeu a perna.
Hamilton Ribeiro é mais conhecido das atuais gerações como repórter do “Globo Rural”. Sua veia de repórter, entretanto, está presente em tudo o que faz. Ele é uma daquelas personalidades que a gente enche a boca de dizer ter tido a oportunidade de conviver.
Como jornalista e inspirador de gerações de profissionais, pra mim ele está entre as três personalidades que mais admiro. Os outros são o saudoso Noé Gertel, meu professor e para sempre editor do “Voz da Unidade”, o último dos jornais do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partidão, atual, Partido Popular Socialista (PPS), que lutou pela legalização do partido após décadas de clandestinidade, e Moacir Longo, ex-vereador, militante e dirigente do Partidão e do PPS, a quem admiro pela dignidade e conduta.
Todos os três, não são apenas excelentes profissionais, mestres do ofício, mas exemplos de vida. Minha pouca convivência com o Hamilton vem dos tempos de diretor do Sindicato dos Jornalistas, indicado que fui pelo Moacir, seu amigo de velha data.
O jornalista foi vice-presidente do sindicato, na época em que fui diretor da entidade presidida por Antonio Carlos Fon, e, assumiu a tarefa de editar o “Unidade”, jornal do sindicato. Ele quis fazer do Unidade, que naquela fase estava mais para o ditado “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”, um veículo digno da categoria profissional que representa.
Eu, que naquela época estava com os pés do outro lado do balcão (como assessor de imprensa), tive a oportunidade de trabalhar, ainda que por pouco tempo, com um dos mais brilhantes profissionais da nossa imprensa. Fiquei impressionado com o carinho e a dedicação que ele dava àquela tarefa, não compreendida pela ala mais radical da diretoria, que achava que o jornal deveria ser única e exclusivamente tratar de assuntos sindicais da categoria.
Sem levar em consideração os protestos daquela ala, queria fazer um jornal de qualidade, com reportagens e matérias que lembrassem que de fato ele era feito por jornalistas profissionais.
Lembro-me que, por sugestão dele, fiz uma reportagem sobre o “Notícias Populares”, jornal sensacionalista do Grupo Folha. Na época, o jornal era editado pela única mulher a deter essa função, e, até então, uma das poucas mulheres que haviam ocupado um cargo de edição de jornal, salvo engano meu.
A matéria não foi bem recebida por ela, ainda hoje competente e reconhecida profissional. Mas teve aquele gosto de polêmica que é salutar, ainda que, talvez, esse tenha sido um de seus poucos méritos.
A passagem vale para registrar que em todo lugar que Hamilton Ribeiro passa deixa a sua marca de excelente jornalista, vencedor de diversos prêmios.
Déjà vu
A primeira impressão que tive ao entrar no plenário da Câmara Municipal foi a de “déjà vu”, tanto era o número de caras conhecidas. No momento, era exibido um vídeo sobre o homenageado.
Em seguida, o mestre de cerimônia chamou os componentes da mesa e leu uma interminável lista de gente que não pode comparecer mas que enviaram mensagens de congratulações a começar pelo governador do Estado, pelo prefeito, vereadores, a dirigentes e colegas da Globo.
Estavam presentes, Roberto Freire, presidente nacional do Partidão e do atual PPS, e meu candidato a deputado federal, Audálio Dantas, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, o atual presidente José Augusto de Camargo, o Guto, uma das irmãs Galvão, da dupla de música caipira, que ficaram amigas de Zé Hamilton depois de uma reportagem sobre o gênero musical e que fez um excelente discurso lembrando do fato, o proponente do título, é óbvio, o vereador Cláudio Fonseca, o presidente municipal do PPS, Carlos Fernandes, e Ivo Herzog, presidente do instituto que leva o nome do pai, Vladimir Herzog, jornalista assassinado pela ditadura militar, todos esses integrantes da mesa que dirigiu os trabalhos.
Na platéia, ex-presidentes do sindicato, como Everaldo Gouveia, Antonio Carlos Fon e Fred Guedhini, dirigentes da entidade, os jornalistas Moacir Longo e Sergio Gomes e outros veteranos profissionais como Almyr Gajardoni, além de companheiros de diretoria do sindicato . Também havia um grupo de estudantes de jornalismo.
A cúpula do PPS estava lá para prestigiar o jornalista que recentemente se filiou ao partido, uma surpresa para mim, porque sei de sua participação política como sindicalista e profissional engajado com a luta pela redemocratização, mas nunca o soube vinculado a algum partido político, afora a sua ligação com Moacir Longo, veterano comunista.
Com certeza, a vinculação a um partido político tem um dedinho do Moacir, por quem Hamilton nutre bastante admiração, como todos nós que temos o prazer de conviver com ele.
Sua filiação talvez se deva à revisão feita pelo partido, que mencionou durante o seu discurso de agradecimento. O jornalista lembrou as origens do PPS no velho partidão, falou do abandono ao conceito da “ditadura do proletariado”, do repúdio a essa e a todas as outras ditaduras.
Bem por isso, interpreto, ele nunca se veiculou ao partidão, porque, apesar de reconhecer o seu valor, não estava confortável com a vinculação do partido ao PCUS, o PC da ex-União Soviética, que a sigla só deixaria de abraçar com a Perestroika e a Glasnot de Gorbatchov e a queda definitiva do regime.
Mas o jornalista deixou claro sua admiração pelo papel dos comunistas na política brasileira, que, segundo palavras minhas, sempre esteve identificado com a luta contra o arbítrio e pela democracia, apesar de seus eventuais erros.
Um excelente contador de histórias, como deve ser um bom jornalista, lembraria Audálio Dantas, Zé Hamilton iniciou dizendo que ao completar recentemente 50 anos de exercício de profissão, foi convidado pelos diretores de jornalismo da TV Globo para uma reunião.
Naquele dia, quando chegou à emissora, na portaria disseram que ele deveria se dirigir a uma determinada sala, antes de ir para a redação. Lá foi recebido pela cúpula do jornalismo da Globo, que o homenageou com a exibição de um vídeo.
Mais tarde, Zé Hamilton encontrou-se com uma antiga funcionária dos Recuros Humanos que lhe perguntou se estava bem de saúde. Surpreso pela pergunta, Zé Hamilton quis saber porque ela estava tão preocupada com a sua saúde. “É que aqui na Glodo”, disse a amiga, “quando homenageiam um funcionário é que ele está prestes a morrer ou a se aponsentar”. Como descartou a primeira hipótese, pensou que sua dispensado era iminente, brincou.
O jornalista terminou o discurso bastante emocionado pela perda da mulher e companheira Cecília. Disse que se lembrava de seu sorriso iluminado e humor refinado e que sempre que a convidava para ir a alguma ocasião festiva ou comemorativa, ela recusava e dizia que não ia porque não tinha roupa apropriada.
O jornalista que viajava muito, devido aos seus compromissos profissionais, disse estranhar porque sempre que saia deixava para Cecília um cheque em branco.
Hamilton Ribeiro lembrou que as filhas, depois da morte da mãe, ao mexerem em suas coisas, encontraram entre elas uma pilha de cheques em branco.

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